sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Não é que seja plágio

Mas é que criar alguma coisa realmente nova é realmente especial. Não hão-de ser estrelas pop, pouco dedicadas a aperfeiçoar-se e a expandir o seu conhecimento da música, que o vão conseguir.

Platonismo musical?

Por vezes penso que a minha forma de avaliar a música é preguiçosa. Que a música que gosto é aquela que se aproxima meia dúzia de melodias que trago guardadas algures na dispensa do inconsciente, construídas com elementos de algumas músicas que provavelmente ouvi quando era novo. Uma música boa é aquela que reúne elementos destas melodias, digamos, arquetípicas, rearranjando-as de modo a parecer uma coisa nova. E sensação de descoberta de uma nova boa música será, afinal, um recordar. Filosoficamente, isto seria uma espécie de "platonismo musical", não é?
Para combater a preguiça, suponho que a receita passe por ouvir música experimental, música do mundo, e sons naturais, e sobretudo, não ouvir música da categoria indie, especialmente a mais recente, que essa malta conquista-me que nem uma fábrica de reciclagem.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Grinderman, videos

Mais uma vez, tudo é atraente num vídeo desta banda tão bonita.

(a tradução do título seria Filha Pagã, ou Filha do Paganismo)

Chãos

Na herdade onde os meus avós vivem, o Porto das Mestras, nenhuma porção de chão está pavimentada, excepto o chão das próprias casas (embora, ainda que não me lembre, seja do tempo em que até o chão das casas era de terra batida). A diferença prática do chão do campo para o chão citadino não está só na sujidade que se leva para casa. No outro dia, o meu avô explicava as circunstâncias de um acidente rodoviário sofrido por conhecidos (e potenciais familiares), e com a maior naturalidade, levou o cajado à terra e desenhou a estrada, os sentidos que os veículos se movimentavam e como o acidente aconteceu, coisa que seria impossível em calçada ou alcatrão.
Não é preciso imaginar um Tarzan a visitar a civilização ocidental (nem lembrar a defesa de Jesus da mulher adúltera e simultânea acusação dos fariseus). Se o meu avô quisesse explicar aquele mesmo acidente, digamos, aqui em Picassinos, já teria de puxar pela imaginação. Eu próprio sou sensível a esta limitação do chão do século XXI, pelo que transporto sempre papel e material de escrita na mala que me acompanha para todo o lado. Nunca se sabe quando é para explicar ou quando é preciso fazer um desenho. E nesse caso, recorro ao meu chão portátil.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ter tecnologia ou não ter

Tenho poucas dúvidas que a tecnologia tenha muita influência no meu estilo de vida, mesmo que seja um fraco adepto de computadores, e embora seja muito adepto das coisas que se podem fazer num computador, como ouvir música, escrever em blogs, e por aí em diante. Não me perguntem qual é a memória RAM típica de um computador topo de gama comercializado à menos de um mês, pronto.
O meu computador em particular, é uma coisa com quase oito anos feitos, e que desde há um tempo para cá, dizimava o meu tempo com a sua lentidão caracolesca. Uma simples visita de dois minutos a um site, podias custar-me dezenas de minutos de espera. Finalmente lá arranjei um bocado de tempo e coragem para formatar a velharia e respectiva bagagem de aplicações, vírus, publicidades acumulada ao longo de dois anos. Terminada a operação, sinto-me no início de uma nova vida, como se tivesse recebido uma nova oportunidade. As perspectivas para o serão expandiram-se radicalmente. Talvez até dê para me demorar um pouco no Facebook. Se as pessoas se meterem comigo no chat, não tenho de ter medo que a conversa caia a meio, ou de deixar a outra pessoa à espera porque saltar de uma janela do browser para a outra demora dois minutos à vontade. E até deixar uma frase curta passar a demorar um curto espaço de tempo. Fico mais presente na consciência dos outros, e eu mais consciente de que os outros existem e manifestam-se. O facebook só funciona se tudo acontecer rápido e sem compromisso.
E porque não, talvez até venha a escrever no blog. Isso é uma grande mudança. Se ter um computador a funcionar bem se tornar a diferença entre ter hábitos de escrita e não ter, então é de facto uma grande diferença.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Coração e amor

Já tentei aventurar-me nessa cena de escrever músicas. Uma coisa é certa: é muito difícil deixar de fora as palavras coração e amor. E não estou a ser romântico.

Como confiar em ti?

E então ela disse:

Como confiar em ti, se nem sabes mentir?
Se não foste aos treinos,
não ganhaste calo,
não nasceste com o dom,
ou hesitas em mostrá-lo?

Se não és senhor das tuas lágrimas?
(até esse líquido dizimas)
Se não consegues malabarismos de emoções?
(guardas tudo para os botões)
Não tens poder sobre os outros à tua volta.

Como confiar em ti, se nem sabes mentir?
Burla o Estado por mim, meu amor.
Só em beijos e orações decidias fechar os olhos...
Renega a existência de um ser superior!
Nunca quiseste seguir os meus conselhos...

Como confiar em ti, se nem sabes mentir?
O problema é meu, não é teu.
Naturalmente, nunca farás parte
da selecção do meu coração.
O problema é meu, não é teu.

Gostava que isto viesse a dar origem a uma música. A ver vamos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Saudosismo Gaga

Ouvir a Lady Gaga deixou-me saudoso disto.

Continuando

No fundo, se me construísse com base na vida política, "possuo bastidores, logo existo".

É difícil gostar de política

Eu bem que tento, mas é difícil gostar de política. Há um excesso de vida privada. Nem ideias nem propostas interessam, se são mais à esquerda ou à direita, originais ou históricas. Parece que os dados realmente relevantes só seriam conseguidos com escutas e vigilância cerrada. Ou hipnose, para saber o que os políticos realmente querem daquilo que fazem. Não há como sentir-me convidado.
Esta coisa da revisão constitucional pode vir a ser diferente. A direita propõe uma reforma, com uma identidade claramente de direita. Por ser uma alteração à Constituição, não se imagina que uma empresa ou uma pessoa vão lucrar no imediato. Podemos, quando muito, imaginar os patrões a esfregar as mãos de contentes, mas isso é acessível a toda gente. Está aqui uma oportunidade que vou tentar aproveitar para perceber melhor disto.

Li o Anticristo

Uma razão forte para começar este blog foi ter lido O Anticristo, de Nietzsche. Uma delícia de ler, mas que põe em causa muitas coisas importantes para mim, e coisas que eu também já tinha pensado. Mais uma vez, leio um livro que não me deixa na mesma (tenho sido muito abençoado com as oportunidades de leitura ao longo da minha vida). Escrever sobre o assunto, e quem sabe ler outras opiniões pode ajudar-me a dar o melhor caminho a esta informação recém-absorvida.
Para já, numa primeira apreciação, parece-me que Nietzsche é o ateísmo levado a sério, de uma forma coerente e consistente, sem concessões ou harmonizações forçadas com outras filosofias. Só por isso, é impossível não nutrir uma dose considerável de simpatia por este homem.

Vida privada

Creio que já li pelo menos duas vezes João Pereira Coutinho a falar do direito à vida privada como uma conquista do lado judaico-cristão da civilização ocidental, isto quando surge algum escândalo que envolva figuras públicas. Sendo eu cristão, sempre desconfiei desta opinião. Sim, acho que a intimidade deve ser um espaço reservado a pouca gente, onde acontecem coisas de natureza que não é domínio público, mas longe de mim pensar que a intimidade é um espaço de ética à la carte, que só à própria pessoa diz respeito. Também a intimidade está sujeita ao juízo de Deus, logo, sujeita a ser divulgada, criticada, e usada na avaliação de uma pessoa.
Suponho que deva chocar qualquer não-cristã que na Bíblia, os critérios de selecção das pessoas que desempenham ministérios na igreja não se fiquem pela própria pessoa, e que se estendem à sua família (o que para muita gente já é invadir o domínio privado).
Do que li o Anticristo, o Nietzsche também vê o cristianismo como invasor do espaço privado. Diz ele sobre Deus que "Não faz mais do que moralizar, rasteja na caverna de todas as morais privadas, torna-se o Deus de toda a gente, o Deus da vida privada, torna-se cosmopolita...". (ora cá está um inimigo da vivência integral da fé). Acredito que Deus, o real, é mais ou menos isto. Deus que incomoda, porque não encontra fronteiras para exercer o seu senhorio, nem mesmo as "morais privadas", que são um pouco como aquelas fronteiras em linha recta dos países africanos, forçadas e nada naturais.
Aos que procuram aumentar a popularidade da tradição judaico-cristã resgatando elementos aqui e acolá de coisas que hoje ainda consideramos boas, não encontrarão na sacralização da vida privada a melhor aposta.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Detesto a classe social dos professores

A minha mãe contava-me que uma professora dela da primária ganhava agora 2700€ de reforma. Os idosos que conheço costumam ganhar menos de 400€. É cerca de 500% superior, por um trabalho mais gratificante, em vez trabalhos repetitivos, prejudiciais para a saúde, com horários descontrolados e poucas férias (já para não falar na questão do trato com os patrões). Claro que acho que não é justo.
No meu percurso de aluno, devo ter tido uns 20% de bons professores. A ideia de os restantes 80% virem a ganhar tanto como os bons professores revolta-me. A possibilidade de os restantes 80% virem a ganhar reformas 500% superiores à de pessoas realmente empenhadas no seu trabalho também. Em geral, tecer considerações sobre a classe social dos professores revolve-me as entranhas.

Quotas

Da selecção alemã, mais de metade é descendente de pessoas que no tempo da segunda guerra seriam perseguidas pela sua raça. A pergunta é se, complexada pelo passado, a federação de futebol alemã terá alguma vez instituído quotas raciais nas suas equipas para se redimir.

Portugal é um país racista latente e gaguejante

Curiosa a hesitação do jornalista ao comentar a substituição no jogo de hoje da Espanha contra a Holanda. Entra um lateral de características mais atacantes, mais espontâneo, para render um mais defensivo, com menos incursões no ataque. A gaguez residiu no facto de lateral que saía ser Boateng, descendente de ganeses - preto, portanto - para entrar Jansen, alto, louro, que no nosso imaginário mais cinéfilo, podia perfeitamente ser oficial nazi. A coisa não batia certo. Os africanos correm muito, atacam e defendem. Os alemães são frios e mais defensivos.
Há uns tempos, li uma entrevista com o historiador Rui Ramos que dizia que não se sabia se Portugal era um país racista, porque ainda não tinha sido realmente posto à prova nessa área. Os estereótipos dos comentadores desportivos dão a dica - eles que, em conjunto com os futebolistas nas conferências de imprensa, ensinam gerações inteiras a pensar e a falar. E apanham-se sinais aqui a acolá. Obviamente somos bastante racistas, só que latentes. Não agimos muito sobre o assunto, mas no pensamento, estão lá aquelas classificações todas que tão facilmente despoletarão o conflito, assim que a coisa se proporcione. Para lá gaguejamos.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

We're no angels


Ontem apanhei-me a ver este filme (We're No Angels) no canal Hollywood, porque tinha Robert DeNiro e Sean Penn numa prisão, e um fulano, que por momentos pensei ser Mickey Rourke, a ser castigado sem parecer muito incomodado por isso.

Os três fogem da prisão, e dois deles conseguem permanecer ocultos num convento, fazendo-se passar por padres. Sendo reclusos, conseguem ensinar uma data de coisas a uma data de gente (padres incluídos, claro está), e pouco aprender com eles. Irra. A coisa culmina com um dos reclusos a pregar "o melhor sermão desde há muito tempo", que começa a ler uma brochura da marca de revólveres Colt que trazia dentro da Bíblia.

De resto toda a mensagem típica da auto-ajuda. O que importa é que acreditar. Desde que traga conforto, tudo bem. E ninguém nos salvará senão nós mesmos. E o ataque mais engraçado à ortodoxia "Is God good? I don´t know." (neste momento ri-me com estrondo) O sermão termina com um aplauso ao pregador. Deus não poderia estar mais ausente deste filme.

Descrença

É quase inevitável pensar no pecado como um fruto da descrença. Diante da enormidade que é Deus, Criador, Vingador, Salvador, Amor (tudo palavras acabadas em dor) não há como não pensar que um delitozinho menor se deveu a acreditar que nada de enorme se lhe seguiria, e que nada de realmente grave, castigador, se seguiria a grandes delitos. Podemos ser pós-modernos, e estar entalados numa série de pressões e influências sufocantes, e que podem asfixiar a fé cristã, mas acho que antes disso tudo, que é desta fase, a luta interior continua a ser a grande luta, de fase em fase ao longo dos tempos.
Como cristão, um dos grandes medos que carrego é que nalgum dia um irmão na fé, em conversa em particular, me acorde com um "mas tu acreditas mesmo nisso?!" (relembro que Jesus veio para salvar os que crêem). Penso que acreditar em Deus tem um potencial de solidão imenso - embora essa não seja a minha experiência, aliás, longe disso.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Gostava de voltar a escrever num blog

Penso que a única razão para actualmente não escrever num blog é, sobretudo, viver em casa dos meus pais. Se um escrevesse um blog, isso era o mais importante, a chave de compreensão, para perceber o que das teclas me saísse, bem como o que não me sai. Escrever por nenhuma razão em especial é um exercício de liberdade e autonomia, e torna-se melhor conseguido quando, por exemplo, preparando as próprias refeições ou não estando sujeito a segundas opiniões sobre estados de saúde.
O exercício da escrita faz-me falta. Ajuda a compor as ideias, a compará-las e a conjugá-las. Ajuda a escolher as palavras certas. Ajuda a rever o dia. Se eu escrevesse um blog, o outro dado muito importante para tornar o resto compreensível é que sou essencialmente uma pessoa esquecida. A minha tristeza com este traço é a marca de que não me conformo; penso no que devo fazer para contrariar a tendência de me tornar cada vez mais despistado, e a escrita parece ser uma das soluções óbvias. Escrever um blog poderia ajudar-me neste aspecto.
Umas das coisas fixes dos blogs era escrever sobre o que lia. Ler simplesmente torna-se uma coisa um bocado platónica, um exercício imaginário em que o veredicto pode reduzir-se simplesmente a "gostei" ou "não gostei". Ler não chega. Há que escrever sobre o que se lê, se possível, estando exposto a comentários, que são necessariamente candidatos a correctivos ou a chamadas de atenção.
Tudo está tão diferente dos fins de 2004, quando a minha conta de utilizador do blogger foi criada. Um blog já não é uma oportunidade, ou um projecto, ou muito menos uma forma de existência comunitária. Aquela blogosfera, tão interligada, tão reactiva, foi um momento histórico de Portugal, mas já lá vai. Se agora escrevesse um blog, teria de me preparar para seguir um caminho de satisfação solitária. Quando muito, podia ser que Deus o lesse.