terça-feira, 15 de junho de 2010

Gostava de voltar a escrever num blog

Penso que a única razão para actualmente não escrever num blog é, sobretudo, viver em casa dos meus pais. Se um escrevesse um blog, isso era o mais importante, a chave de compreensão, para perceber o que das teclas me saísse, bem como o que não me sai. Escrever por nenhuma razão em especial é um exercício de liberdade e autonomia, e torna-se melhor conseguido quando, por exemplo, preparando as próprias refeições ou não estando sujeito a segundas opiniões sobre estados de saúde.
O exercício da escrita faz-me falta. Ajuda a compor as ideias, a compará-las e a conjugá-las. Ajuda a escolher as palavras certas. Ajuda a rever o dia. Se eu escrevesse um blog, o outro dado muito importante para tornar o resto compreensível é que sou essencialmente uma pessoa esquecida. A minha tristeza com este traço é a marca de que não me conformo; penso no que devo fazer para contrariar a tendência de me tornar cada vez mais despistado, e a escrita parece ser uma das soluções óbvias. Escrever um blog poderia ajudar-me neste aspecto.
Umas das coisas fixes dos blogs era escrever sobre o que lia. Ler simplesmente torna-se uma coisa um bocado platónica, um exercício imaginário em que o veredicto pode reduzir-se simplesmente a "gostei" ou "não gostei". Ler não chega. Há que escrever sobre o que se lê, se possível, estando exposto a comentários, que são necessariamente candidatos a correctivos ou a chamadas de atenção.
Tudo está tão diferente dos fins de 2004, quando a minha conta de utilizador do blogger foi criada. Um blog já não é uma oportunidade, ou um projecto, ou muito menos uma forma de existência comunitária. Aquela blogosfera, tão interligada, tão reactiva, foi um momento histórico de Portugal, mas já lá vai. Se agora escrevesse um blog, teria de me preparar para seguir um caminho de satisfação solitária. Quando muito, podia ser que Deus o lesse.