quarta-feira, 21 de julho de 2010

Coração e amor

Já tentei aventurar-me nessa cena de escrever músicas. Uma coisa é certa: é muito difícil deixar de fora as palavras coração e amor. E não estou a ser romântico.

Como confiar em ti?

E então ela disse:

Como confiar em ti, se nem sabes mentir?
Se não foste aos treinos,
não ganhaste calo,
não nasceste com o dom,
ou hesitas em mostrá-lo?

Se não és senhor das tuas lágrimas?
(até esse líquido dizimas)
Se não consegues malabarismos de emoções?
(guardas tudo para os botões)
Não tens poder sobre os outros à tua volta.

Como confiar em ti, se nem sabes mentir?
Burla o Estado por mim, meu amor.
Só em beijos e orações decidias fechar os olhos...
Renega a existência de um ser superior!
Nunca quiseste seguir os meus conselhos...

Como confiar em ti, se nem sabes mentir?
O problema é meu, não é teu.
Naturalmente, nunca farás parte
da selecção do meu coração.
O problema é meu, não é teu.

Gostava que isto viesse a dar origem a uma música. A ver vamos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Saudosismo Gaga

Ouvir a Lady Gaga deixou-me saudoso disto.

Continuando

No fundo, se me construísse com base na vida política, "possuo bastidores, logo existo".

É difícil gostar de política

Eu bem que tento, mas é difícil gostar de política. Há um excesso de vida privada. Nem ideias nem propostas interessam, se são mais à esquerda ou à direita, originais ou históricas. Parece que os dados realmente relevantes só seriam conseguidos com escutas e vigilância cerrada. Ou hipnose, para saber o que os políticos realmente querem daquilo que fazem. Não há como sentir-me convidado.
Esta coisa da revisão constitucional pode vir a ser diferente. A direita propõe uma reforma, com uma identidade claramente de direita. Por ser uma alteração à Constituição, não se imagina que uma empresa ou uma pessoa vão lucrar no imediato. Podemos, quando muito, imaginar os patrões a esfregar as mãos de contentes, mas isso é acessível a toda gente. Está aqui uma oportunidade que vou tentar aproveitar para perceber melhor disto.

Li o Anticristo

Uma razão forte para começar este blog foi ter lido O Anticristo, de Nietzsche. Uma delícia de ler, mas que põe em causa muitas coisas importantes para mim, e coisas que eu também já tinha pensado. Mais uma vez, leio um livro que não me deixa na mesma (tenho sido muito abençoado com as oportunidades de leitura ao longo da minha vida). Escrever sobre o assunto, e quem sabe ler outras opiniões pode ajudar-me a dar o melhor caminho a esta informação recém-absorvida.
Para já, numa primeira apreciação, parece-me que Nietzsche é o ateísmo levado a sério, de uma forma coerente e consistente, sem concessões ou harmonizações forçadas com outras filosofias. Só por isso, é impossível não nutrir uma dose considerável de simpatia por este homem.

Vida privada

Creio que já li pelo menos duas vezes João Pereira Coutinho a falar do direito à vida privada como uma conquista do lado judaico-cristão da civilização ocidental, isto quando surge algum escândalo que envolva figuras públicas. Sendo eu cristão, sempre desconfiei desta opinião. Sim, acho que a intimidade deve ser um espaço reservado a pouca gente, onde acontecem coisas de natureza que não é domínio público, mas longe de mim pensar que a intimidade é um espaço de ética à la carte, que só à própria pessoa diz respeito. Também a intimidade está sujeita ao juízo de Deus, logo, sujeita a ser divulgada, criticada, e usada na avaliação de uma pessoa.
Suponho que deva chocar qualquer não-cristã que na Bíblia, os critérios de selecção das pessoas que desempenham ministérios na igreja não se fiquem pela própria pessoa, e que se estendem à sua família (o que para muita gente já é invadir o domínio privado).
Do que li o Anticristo, o Nietzsche também vê o cristianismo como invasor do espaço privado. Diz ele sobre Deus que "Não faz mais do que moralizar, rasteja na caverna de todas as morais privadas, torna-se o Deus de toda a gente, o Deus da vida privada, torna-se cosmopolita...". (ora cá está um inimigo da vivência integral da fé). Acredito que Deus, o real, é mais ou menos isto. Deus que incomoda, porque não encontra fronteiras para exercer o seu senhorio, nem mesmo as "morais privadas", que são um pouco como aquelas fronteiras em linha recta dos países africanos, forçadas e nada naturais.
Aos que procuram aumentar a popularidade da tradição judaico-cristã resgatando elementos aqui e acolá de coisas que hoje ainda consideramos boas, não encontrarão na sacralização da vida privada a melhor aposta.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Detesto a classe social dos professores

A minha mãe contava-me que uma professora dela da primária ganhava agora 2700€ de reforma. Os idosos que conheço costumam ganhar menos de 400€. É cerca de 500% superior, por um trabalho mais gratificante, em vez trabalhos repetitivos, prejudiciais para a saúde, com horários descontrolados e poucas férias (já para não falar na questão do trato com os patrões). Claro que acho que não é justo.
No meu percurso de aluno, devo ter tido uns 20% de bons professores. A ideia de os restantes 80% virem a ganhar tanto como os bons professores revolta-me. A possibilidade de os restantes 80% virem a ganhar reformas 500% superiores à de pessoas realmente empenhadas no seu trabalho também. Em geral, tecer considerações sobre a classe social dos professores revolve-me as entranhas.

Quotas

Da selecção alemã, mais de metade é descendente de pessoas que no tempo da segunda guerra seriam perseguidas pela sua raça. A pergunta é se, complexada pelo passado, a federação de futebol alemã terá alguma vez instituído quotas raciais nas suas equipas para se redimir.

Portugal é um país racista latente e gaguejante

Curiosa a hesitação do jornalista ao comentar a substituição no jogo de hoje da Espanha contra a Holanda. Entra um lateral de características mais atacantes, mais espontâneo, para render um mais defensivo, com menos incursões no ataque. A gaguez residiu no facto de lateral que saía ser Boateng, descendente de ganeses - preto, portanto - para entrar Jansen, alto, louro, que no nosso imaginário mais cinéfilo, podia perfeitamente ser oficial nazi. A coisa não batia certo. Os africanos correm muito, atacam e defendem. Os alemães são frios e mais defensivos.
Há uns tempos, li uma entrevista com o historiador Rui Ramos que dizia que não se sabia se Portugal era um país racista, porque ainda não tinha sido realmente posto à prova nessa área. Os estereótipos dos comentadores desportivos dão a dica - eles que, em conjunto com os futebolistas nas conferências de imprensa, ensinam gerações inteiras a pensar e a falar. E apanham-se sinais aqui a acolá. Obviamente somos bastante racistas, só que latentes. Não agimos muito sobre o assunto, mas no pensamento, estão lá aquelas classificações todas que tão facilmente despoletarão o conflito, assim que a coisa se proporcione. Para lá gaguejamos.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

We're no angels


Ontem apanhei-me a ver este filme (We're No Angels) no canal Hollywood, porque tinha Robert DeNiro e Sean Penn numa prisão, e um fulano, que por momentos pensei ser Mickey Rourke, a ser castigado sem parecer muito incomodado por isso.

Os três fogem da prisão, e dois deles conseguem permanecer ocultos num convento, fazendo-se passar por padres. Sendo reclusos, conseguem ensinar uma data de coisas a uma data de gente (padres incluídos, claro está), e pouco aprender com eles. Irra. A coisa culmina com um dos reclusos a pregar "o melhor sermão desde há muito tempo", que começa a ler uma brochura da marca de revólveres Colt que trazia dentro da Bíblia.

De resto toda a mensagem típica da auto-ajuda. O que importa é que acreditar. Desde que traga conforto, tudo bem. E ninguém nos salvará senão nós mesmos. E o ataque mais engraçado à ortodoxia "Is God good? I don´t know." (neste momento ri-me com estrondo) O sermão termina com um aplauso ao pregador. Deus não poderia estar mais ausente deste filme.

Descrença

É quase inevitável pensar no pecado como um fruto da descrença. Diante da enormidade que é Deus, Criador, Vingador, Salvador, Amor (tudo palavras acabadas em dor) não há como não pensar que um delitozinho menor se deveu a acreditar que nada de enorme se lhe seguiria, e que nada de realmente grave, castigador, se seguiria a grandes delitos. Podemos ser pós-modernos, e estar entalados numa série de pressões e influências sufocantes, e que podem asfixiar a fé cristã, mas acho que antes disso tudo, que é desta fase, a luta interior continua a ser a grande luta, de fase em fase ao longo dos tempos.
Como cristão, um dos grandes medos que carrego é que nalgum dia um irmão na fé, em conversa em particular, me acorde com um "mas tu acreditas mesmo nisso?!" (relembro que Jesus veio para salvar os que crêem). Penso que acreditar em Deus tem um potencial de solidão imenso - embora essa não seja a minha experiência, aliás, longe disso.